Alô criançada o blog voltou! Pois é voltarei a postar meus contos, poemas e et cetera neste novo blog, por que? Porque, cheguei a conclusão de que meus textos precisavam melhorar um pouco, então primeiramente vou postar os primeiros contos do blog anterior. Agora chega de conversa e vamos ao que interessa. Ouça os gritos da bela Banshee. (Recomendo ler ouvindo siouxsie and the banshees ;D)
Banshee
Quando era jovem, eu e meus amigos e outras crianças do vilarejo costumávamos sair nas madrugadas escondidos de nossos pais, para vivermos aventuras e nos divertirmos, não éramos muitos e é claro que haviam crianças que não desejavam sair ou fugir para nosso “mundo perfeito” e nosso, vivíamos como queríamos, tínhamos nossas próprias leis, mesmo que por algumas horas, nós éramos donos de nossos mundos.
Meu vilarejo vivia longe de qualquer presença tecnológica, vivíamos no passado, poucos lugares com energia elétrica. Todos temiam a tecnologia, como algum mal ou o prenuncio do apocalipse. Acreditavam em lendas, seres míticos, não os temiam, os respeitavam. Tinha onze anos na época e tudo aquilo parecia infantil demais até para mim, fadas, duendes, espíritos bons e espíritos maus, bobagem.
Foi quando chegou o dia do meu decimo segundo aniversario, era uma noite fria de sábado e é claro que eu ia sair, faríamos uma festa, como de costume, cantaríamos e festejaríamos, mas o que dizer, se todos os dias eram dias de festa! Ouço as doze badaladas do sino da igreja, abro a janela e corro para liberdade disfarçada de ruas vazias, chego em nosso ponto de encontro, as belas regiões montanhosas, afastadas do vilarejo, não encontro ninguém, percorro mais alguns metros mas apenas uma pessoa foi vista.
Ela estava sentada em um tronco seco, devia ter a minha idade, e era a garota mais linda que já havia visto em toda minha vida, a Lua iluminava sues olhos acinzentados, que brilhavam, tal brilho se misturava a cor clara de sua pele e as lagrimas que escorriam pelo seu rosto e todo brilho era quebrado por seus cachos pretos que se misturavam com seu vestido de mesma cor, chorava, de maneira triste, soluçava. Me aproximei, pela primeira vez na minha vida senti frio na barriga ao conversar com uma garota, me sentia feliz, me senti com um medo desconhecido.
- V-Você esta bem? –Minha voz oscilava, vacilava, sumia no vento das montanhas.
Ela parou de chorar, me olhou nos olhos, como se pudesse ver minha alma e pela primeira vez acreditei no termo “os olhos são o espelho da alma”; me olhava com curiosidade, havia parado de chorar, mas ainda soluçava, se levantou e sem nem ao menos uma palavra, me abraçou, soluçava, respirava profundamente, como se sua angustia saísse aos poucos pela respiração, sua pele era fria, mas começava a esquentar, então, ela me soltou.
Limpou os olhos, virou as costas e pôs-se a correr, descalça. Eu me mantive parado, não sabia o que fazer, fiquei pasmo, feliz, mas ainda sentia um estranho medo.
- A onde você vai?! Nem ao menos disse seu nome... eu vou te ver de novo? –Gritei, mas as palavras sumiram no vento.
Ela virou-se e pareceu pronunciar algo, algo que os ventos não desejaram que eu ouvisse. Continuou seu caminho e então gritou, gritou gritos histéricos, capazes de destruir a coragem de qualquer um que se opusesse ao seu caminho, como se a criatura mais bela criada pelos deuses se tornasse no monstro mais perigoso da face da terra. Sete gritos.
Decidi voltar para casa, por outro caminho, quem sabe desse modo encontrasse algum amigo meu, mas não era o que eu realmente desejava, ainda estava em êxtase, me movia automaticamente, apenas admirava a beleza do “meu mundo” , o luar iluminava a grama verde, que se movia com os ventos típicos das regiões montanhosas, o vento uivava, me contava segredos dos quais ainda não era capaz de ouvir. Não havia com que me preocupar, estava em paz.
A realidade quebra meu êxtase. No caminho encontro alguém próximo a uma arvore de folhas secas, tento identifica-lo, sem sucesso me aproximo, era uma das crianças todos o chamavam de Frank, morava próximo a minha casa, mas nunca nos falamos, a passos lentos me aproximei, Frank estava imóvel, cheguei perto, foi então que percebi, Frank estava morto, seus olhos ainda abertos, o sangue percorria seu nariz e pelos cantos de sua boca e seus ouvidos e seus olhos, como um choro. Cai no chão, em choque, corri, e vi outros, Pamela, George, Ingrid... Amigos meus, mas não havia o que fazer, o medo percorria meu corpo, corri o mais depressa que pude, para minha casa, meus refugio, meu mundo foi destruído, devia encontrar outro refugio e o mais próximo e plausível, era minha própria casa.
Voltei para meu quarto, não consegui dormir, as imagens me assombravam. Nos dias que se passaram, a população foi advertida a não sair mais de casa durante as madrugadas, evitar as regiões montanhosas e o silencio foi reservado aos que morreram em tal dia. Não disse nada aos meus pais, respeitei as leis estabelecidas por meus amigos.
Minha mãe se orgulhou de eu não ser um garoto que “fugia de casa”; meu pai ficou responsável por me contar o que havia acontecido, contou-me a lenda da Banshee, disse que ela pode tomar três formas, uma mulher, uma jovem, ou com vestes esfarrapadas, e que quando você encontra-la quer dizer que você esta próximo da morte. Ela é uma espécie de “espirito que grita” e o numero de gritos dela simboliza quantos dias de vida você ainda tem. Ele contou que os fazendeiros “naquela noite” ouviram gritos. Tinha motivos para acreditar, afinal eu a havia visto, porem, pensar que foram sete gritos, e cada grito representava um dia, isso ainda me perturbava. Foi-se uma semana, e nada aconteceu, meu pai continuou me ensinando sobre lendas, e eu continuei a viver.
Aos dezoito anos morava sozinho no centro da cidade, estudava, trabalhava, e vivia como uma pessoa qualquer. Faço dezenove anos esta noite, sete anos se passaram e eu apenas fugi do inevitável. Ao soar das doze badaladas do sino da catedral minha campainha toca. Sequer olho pelo olho mágico, já sei quem esta a porta, eu abro, ela me abraça com força, continuava linda, mais bela do que nunca. Ela sorri. Me beija. Segura em minha mão, e estamos de volta no lugar onde tudo começou. No meu mundo, onde tudo é perfeito.
Nunca mais me viram, alguns disseram que eu fugi como sempre fugi de tudo, outros disseram que fui raptado, meu rosto foi parar na lista de desaparecidos, mas no final, acabou na lista de arquivos mortos. Por fim vivi feliz, eternamente, no lugar que sempre foi meu, ao lado de quem me causou extremo fascínio “naquela noite”.